- Bryan da Fonseca Araújo
A esquerda Peter Pan
Atualizado: 24 de jul. de 2021
Por Bryan da Fonseca Araújo
Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Segurança pública.
Mestrando em Ciência Política (UFPB).
Em 1904 no clássico da literatura mundial de J. M. Barrie, fomos apresentados pela primeira vez a figura do Peter Pan e o seu mundo mágico da terra do nunca.
Neste conto fantástico, o líder dos garotos perdidos, era alguém que não queria crescer, permanecendo eternamente jovem e infantil.
A figura do Peter Pan sempre me fez lembrar de certa parte da esquerda brasileira, que como o personagem, se recusa a crescer e evoluir, permanecendo com as mesmas ideias, mesma visão de mundo e dependente das mesmas figuras políticas desde a redemocratização.
A volta do ex Presidente Lula ao jogo político, como possível candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores, escancarou ainda mais esta percepção.
Se confirmada, Lula estará indo para o seu sétimo lançamento de candidatura ao cargo de Presidente, sendo uma delas, a de 2018, vetada pela Justiça Eleitoral, visto que na ocasião o ex Presidente encontrava-se preso em Curitiba, devido a uma sentença que veio a ser anulada posteriormente.
O que confirma a dependência do campo progressista a mesma figura desde 1989. Durante todo este tempo, a esquerda brasileira foi incapaz de produzir novas lideranças que substituíssem a velha guarda da luta pela redemocratização, o que por sua vez, levanta a questão de que: se tal realidade se deu realmente pela incapacidade de se produzir uma renovação na esquerda ou se tais novos quadros promissores foram simplesmente sufocados em seu nascedouro?
O fato é que a “lulodependência” se mantem, o que torna o futuro do campo nebuloso, uma vez que apenas os diamantes são para sempre.
Lula por sua vez segue fazendo o que qualquer outro político em seu lugar faria, continua se apresentando como o único nome capaz de liderar o campo, e articula para a minoração de possíveis ascensões de figuras de outros partidos, e diria que até mesmo dentro do próprio partido.
Um dos casos mais recentes ocorreu em São Paulo, onde fora noticiado que o PT buscava que o possível candidato ao governo do estado, Guilherme Boulos do PSOL, figura promissora do campo progressista, e que ano passado em uma campanha exitosa a prefeitura da capital, conseguiu ir ao 2° turno, desbancando nomes conhecidos da política paulistana como Marcio França do PSB e Celso Russomano do Republicanos, retirasse o seu nome da disputa do próximo ano em apoio ao candidato do PT, em troca de uma promessa de apoio futuro para as eleições de 2024.
No estado de São Paulo por sinal, o partido historicamente, nunca abriu mão da candidatura própria, assim como nas eleições nacionais.
A proposta de hegemonia do Partido dos Trabalhadores na esquerda é algo que poderia ser esperado de qualquer outro partido, o PSDB por exemplo tentou o mesmo no campo da direita, buscando eternizar a disputa bipartidária, contudo, não contavam com o surgimento de uma figura como Bolsonaro, que roubaria para si os eleitores tucanos que durante 14 anos dos governos petistas, radicalizaram seu discurso.
Desta forma, o problema não está na estratégia em si, e sim na incapacidade dos demais partidos de esquerda, que percebendo isto, permanecem inertes sempre a sombra de um único homem, e que sempre se articulou muito bem quando levantes são tentados dentro do mesmo campo.
É necessário o reavivamento do senso crítico que sempre foi uma das principais características da esquerda, a sua capacidade de contestar figuras e governos, e exigir mudança.
Não é normal e muito menos democrático a dependência de um campo plural com as mais diversas correntes e pensamentos a uma única pessoa por mais de trinta anos. A esquerda precisa crescer, se desenvolver, evoluir e principalmente se renovar, se quiser se reconectar com o povo e superar a tragédia bolsonarista.
É hora de deixar a terra do nunca!