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  • Plínio Tenório

Agenda econômica, setor energético e montadoras de automóveis

A saída da Ford é mais um motivo para debatermos investimentos no

setor energético.

Plínio Tenório

Mestre e Doutorando em Engenharia Espacial (INPE)


No Brasil de hoje as notícias de ontem já estão antigas, imaginem então do longínquo 11 de janeiro de 2021, quando a Ford anunciou o encerramento de suas atividades no país. A empresa justificou sua escolha se baseando num conjunto de fatores econômicos, de mercado global e do impacto da pandemia nos negócios.

Se tratando de uma grande empresa, com operação secular no país, evidentemente que sua saída fomentou alguns debates nas redes sociais e nos grandes veículos de impressa. Pelo que vimos no noticiário à discussão circulou entre: alertas sobre a desindustrialização brasileira, críticas ao modelo de incentivos fiscais, a necessidade de uma reforma tributária, o custo Brasil, entre outros pontos econômicos. Entretanto, pouco se falou sobre infraestrutura, principalmente sobre infraestrutura energética, um dos motivos pelo qual a empresa decidiu partir.

Quem acompanha o setor automotivo já sabe que a tendência para o futuro próximo é a eletrificação dos carros populares. Muitos países já tem data para proibir a circulação de carros à combustão. Esse processo faz parte dos esforços globais para a redução de emissão de carbono e motiva a busca por baterias mais duráveis e super capacitores mais eficientes, criação de pontos de recarga para os veículos, mais fontes de geração de energia, maior capacidade de distribuição, enfim, toda uma nova infraestrutura e tecnologia, que no Brasil está atrasada.


Demanda por energia elétrica e infraestrutura apropriada para abastecimento de veículos deve crescer nos próximos anos.

Nem mesmo os grandes centros urbanos brasileiros têm condições de atualizarem-se, nos próximos dez ou quinze anos, para abolir as versões movidas à gasolina. Mesmo que tivesse um projeto para tal, o que inexiste. Além disso, também é necessário aumentar a geração de energia limpa e barata. Não adianta usar carro elétrico e queimar diesel nas usinas termoelétricas, não só pelo fator ambiental, que é muito importante, mas pelo custo da energia.


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O custo da energia é um fator que pode inviabilizar toda a mudança tecnológica. O consumidor não vai se sentir motivado a migrar para a nova tecnologia sabendo que toda vez que precisar reabastecer seu carro, vai precisar gastar mais dinheiro. Nesse ponto estamos numa contramão tremenda. A última grande obra desse tipo, Belo Monte, além de todas as polêmicas ambientais, corre o risco de ter o MWh (Megawatt-hora) muito mais caro do que o planejado. Outro exemplo, Angra 3 está a mais de uma década em obras e acaba de ter a entrega mais uma vez prorrogada, devido a pandemia de covid-19.

Encarar a saída da Ford somente como uma questão que poderia ser resolvida com propostas econômicas, como a reforma tributária, ou denunciar a desindustrialização brasileira é uma visão míope do problema. O caminho completo para impedirmos que outras empresas e empregos partam, tem que unir os ajustes econômicos e burocráticos com investimento, pesquisa e desenvolvimento na infraestrutura brasileira.

 

Referências:

  • OUL. Motivos que fizeram a Ford fechar. Disponível em: https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2021/01/12/5-motivos-que-fizeram-ford-fechar-todas-suas-fabricas-no-brasil.htm . Acesso em: 26/01/2021

  • Valor Econômico. Vazão em Belo Monte pode elevar o preço da energia. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/01/05/vazao-menor-em-belo-monte-pode-elevar-preco-da-energia.ghtml. Acesso em: 26/01/2021

  • Reuters. Covid-19 to delay brazil nuclear plant. Disponível em: https://www.reuters.com/article/nuclear-brazil/covid-19-to-delay-brazil-nuclear-plant-eletronuclear-idUSL1N2D319L?edition-redirect=uk. Acesso em: 26/01/2021

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