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  • Bryan da Fonseca Araújo

As eleições de 2020 e os desafios do campo progressista

Atualizado: 24 de jul. de 2021

Findo o processo eleitoral é hora de contar as baixas para uns e dividir os espólios para outros. Em uma eleição marcada pela maior crise sanitária do último século, ficava a dúvida para saber como a classe política encararia o fator COVID-19, e como este pleito se adaptaria à nova realidade.


A verdade é que não houveram muitas mudanças no modo de fazer campanha, mesmo com as restrições impostas pela Justiça Eleitoral. As previsões de uma diminuição no comparecimento do eleitor às urnas se confirmaram, sendo a abstenção a grande vencedora das eleições deste ano.


Isto posto, vamos ao que interessa que é o desempenho dos campos políticos, e o que o resultado das municipais, em uma espécie de leitura dos augúrios, pode nos revelar do que está por vir no cenário nacional.


Dividirei a minha análise em duas partes, dedicando esta primeira parte para lançar um olhar sobre os caminhos dos partidos do campo progressista (centro-esquerda e esquerda).


A esquerda como um todo, amargou mais uma queda tanto nas eleições proporcionais quanto nas majoritárias.


O PSB foi o partido que teve o pior desempenho, perdendo 151 prefeituras em comparação ao pleito de 2016. Em seguida vem o Partido dos Trabalhadores, que desafiando o mais pessimista dos seus correligionários, conseguiu piorar o seu pior desemprenho em eleições municipais, mesmo sendo o partido com maior fundo eleitoral e lançando o maior número de candidatos da sua história, e o PT perdeu 71 prefeituras em comparação ao pleito anterior, tendo agora menos prefeitos sob o seu comando do que tinha em 2000, antes de assumir a Presidência da República. Partidos como o PDT e o PCdoB tiveram perdas menores, 17 e 34 prefeituras respectivamente. O PSOL junto da Rede foram os únicos partidos do campo progressista que aumentaram o número de representantes no executivo municipal, o primeiro ganhando mais 3 prefeituras, sendo uma delas uma capital (Belém – PA), enquanto que o partido da Marina Silva somou mais uma prefeitura para a conta. Ambos terminaram o pleito com 5 prefeituras cada. Contudo, continuam bem distante dos grandes peixes do campo.

Por fim, o PV que perdeu mais da metade de suas prefeituras saindo de 98 para 47.


(Fonte: G1)


Este cenário nada favorável para a esquerda brasileira não muda quando analisamos os votos da disputa proporcional.


O Professor Jairo Nicolau, pesquisador da FGV e do CNPq, nos trouxe alguns levantamentos quanto aos votos totais de cada partido nas eleições para as câmaras legislativas municipais. Entretanto, devemos ter em mente que: quanto maior for o número de candidatos de um partido, maior será o número global de votos recebidos, mas isso não significa necessariamente taxa de sucesso, que é a quantidade de cadeiras conquistadas por aquele partido.


Assim sendo, é importante avaliar a votação global bem como o número de cadeiras conquistadas, o que pode impactar a capacidade dos partidos em eleger Deputados e Senadores nas eleições de 2022.


O PT foi o partido de esquerda que mais recebeu votos globais nas eleições proporcionais, no entanto, perdeu 5% das cadeiras em comparação a 2016, possuindo hoje 2.665 vereadores filiados ao partido.


(Fonte: Jairo Nicolau, 2020)


O PDT além de liderar o campo no número de prefeituras, menos por méritos próprios e mais por demérito dos demais partidos, também é o partido de esquerda com a maior bancada de vereadores (3.441), mesmo tendo uma queda de 9% em comparação ao pleito anterior.


O PSOL novamente é a exceção do campo, tendo um crescimento de 59% no número de vereadores, conquistando 89 cadeiras em todo o Brasil.


Pela primeira vez desde a redemocratização nenhum partido de esquerda ficou entre as 5 maiores bancadas legislativas municipais, sendo o PDT em 7° a melhor colocação do campo.

Como nos mostra o Professor Jairo, a base petista retornou aos grandes centros e cidades com população acima de 500 mil habitantes. Com isso o partido passa a governar um número maior de habitantes do que em 2016 mesmo tendo perdido prefeituras. O desempenho nas cidades de médio porte, que foi o foco do PT nestas eleições, ficou aquém do que o esperado pela cúpula do partido.


O PDT, por outro lado, mostrou ter conseguido uma maior capilaridade no interior do Brasil, que até pouco tempo era algo que faltava ao partido. Entretanto ainda encontra dificuldades nos grandes centros urbanos, mesmo tendo feito prefeitos em duas capitais, mesmo número do PSB.


O partido Socialista por sua vez, terá uma árduo trabalho de reconstrução a sua frente, visto que lideranças regionais importantes como o Ex-Governador Paraibano Ricardo Coutinho, que após ter eleito seu sucessor no 1° turno em 2018, tirou em 6° na corrida deste ano para a prefeitura da capital João Pessoa, e ainda viu uma debandada dos quadros do partido no estado.


Siglas como o PV, Rede e o PCdoB já se encontram com a corda no pescoço em função da cláusula de barreira, e todos perderam cadeiras no legislativo municipal neste ano. Com isso, é possível que vejamos novidades na organização partidária já no próximo ano. Fica a expectativa para a movimentação do atual Governador do Maranhão Flavio Dino (PCdoB), cujo o partido, teve um desempenho nada satisfatório no seu Estado, bem como perdeu a disputa em Porto Alegre/RS com a candidata Manuela d'Ávila.


(Fonte: Jairo Nicolau, 2020)


O resultado das eleições municipais nem sempre se repete no pleito Nacional, contudo alguns sinais do comportamento do eleitor podem ser observados, como por exemplo, de que após 14 anos de um governo de esquerda o pendulo eleitoral brasileiro ainda continua na direita. Resta saber se os dois anos restantes do governo Bolsonaro serão suficientes para fazê-lo regressar à esquerda, campo este que ainda não descobriu como voltar a se comunicar com grande parte do eleitorado, dependendo cada vez mais do apoio do centro e da centro-direita se quiser ter reais chances de vitória em 2022.


Muita coisa deve ser repensada e revista. Mas como nem tudo são pedras, a esquerda por mais fragmentada que esteja, já sabe quem são os prováveis nomes para concorrer em 2022. A partir deles já se pode começara a costurar alianças, e se apresentar, portanto, de forma mais organizada do que a direita liberal não bolsonarista, que faltando apenas metade do caminho para a corrida Presidencial ainda bate cabeça em busca de um nome competitivo e com força aglutinativa. Mas isso é papo para outro texto.


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