- Samuelson Xavier
As Massas Intelectuais - Por que educar é produzir?
Atualizado: 16 de mai. de 2021
Samuelson Xavier
Presidente do Movimento Comunitário Trabalhista (MCT) do Ceará e Vice-presidente Nacional.
Em vinte anos vamos precisar responder uma série de perguntas que vinte anos atrás nossos pais não imaginavam precisar responder. Tais como "o que era um caminhoneiro, o que era um trocador de ônibus, o que era um caixa de supermercado?", e sabe-se lá quantas outras dessas. É sabido desde o século XIX que a evolução das forças produtivas impulsionada pela Revolução Científico-Técnica (RCT) é supressora de empregos e profissões. Agora o que chamamos de Quarta Revolução Industrial é o próximo passo do fenômeno de automação massiva de atividades produtivas. Em poucos anos, milhões de empregos desaparecerão, a tecnologia vai reduzir drasticamente o trabalho braçal e presencial, seja no campo, no setor industrial ou de serviços. Você pagará suas contas todas sem precisar ir à lotérica ou ao banco, será passageiro em um veículo sem motorista, irá no mercado e sairá com os produtos todos automaticamente debitados de sua conta, encomendas vão cruzar o país em veículos não tripulados. Estamos falando de um progressivo desaparecimento do trabalho como o conhecemos até o presente. Isso não é ficção científica! No mundo todo está acontecendo mais e mais, o tempo todo. E você vai obviamente se perguntar: As pessoas todas, o que vai acontecer com os trabalhadores?
Pois é. O que vai acontecer com os trabalhadores em uma sociedade que está reduzindo radicalmente a massa laboral e promovendo a automação geral do processo produtivo? Como salvar o povo da miséria e da desocupação massivas? A primeira crítica de alguns "liberalóides" seria descartar o fatalismo e dizer que o mercado vai autorregular o emprego criando novos setores produtivos a partir dos avanços técnicos. De fato, novos setores produtivos surgem e não é caso para fatalismos, mas é mentira que o mercado vai autorregular os empregos. É um otimismo mal intencionado. O interesse do Capital tem sido desde a origem a supressão do custo do trabalho em primeiro lugar. Em segundo lugar, novos setores produtivos exigem mão-de-obra especializada com a requalificação educacional e profissional de grandes contingentes populacionais. A introdução da escrita exigiu um treinamento coletivo, da calculadora exigiu mais um, da máquina de datilografar exigiu outro, o computador exige um treinamento maior que incorpora treinamentos anteriores. Não esperem por exemplo que os antigos motoristas, trocadores do transporte público e caixas de supermercado se transformem do dia para a noite em programadores especializados na nova produção.
No caso brasileiro, a automação em massa dos processos leva ainda a conclusões mais graves. Uma maioria ingente da população ainda não domina a técnica básica da leitura e da escrita, da linguagem lógico-matemática e do pensamento científico-crítico. Também a propriedade das tecnologias e dos saberes avançados se encontra monopolizada em empreendimentos estrangeiros que cumprem uma missão exploratória sobre o mercado consumidor nacional, sem difundir o desenvolvimento tecnológico e transferindo os ganhos de capital para o exterior. Os trabalhistas, Theotônio dos Santos e Mangabeira Unger, já denunciaram a monopolização do setor tecnológico e a aplicação colonialista das vantagens tecno-científicas contra o interesse nacional brasileiro. Essas franjas excludentes da vanguarda produtiva, como diz Unger, agigantam dramaticamente a acumulação de Capital, destroem direitos trabalhistas, deprimem salários e desempregam massivamente reduzindo o custo do trabalho, apropriam-se do investimento público em pesquisa básica, "roubam cérebros" de países subdesenvolvidos, levam antigos empreendimentos a falência, geram uma profunda concentração da produção científica e tecnológica desnacionalizando as economias.
Num horizonte em que economia dependente, péssima governança, globalização dos mercados de capitais e uma nova etapa da Revolução Científico-Técnica premem o Brasil a um contexto de quase absoluta subalternidade geopolítica, precisamos pensar em três eixos prioritários para um projeto alternativo de nação: A revolução industrial brasileira, a socialização de uma renda mínima, e essencialmente, a revolução educacional. É fundamental compreendermos que não existe revolução produtiva hoje sem uma renovada educação de massa. A massiva destruição de empregos e postos profissionais como consequência da mudança tecnológica e a profunda concentração da produção em decorrência do monopólio estrangeiro das formas avançadas de produção não serão superadas sem a requalificação massiva dos cidadãos.
Repensar a formação na sua integralidade, da creche à universidade e indo além com um investimento sólido na Educação de Jovens e Adultos que requalifique os trabalhadores e seus filhos. Mas trabalhadores capazes de dialogar com os métodos modernos da produção e também capazes de participar ativamente das grandes escolhas que seremos chamados a fazer neste século só poderão ser formados em uma nova escola. Uma escola de tempo integral que garanta ao trabalhador para começar os requisitos básicos de segurança alimentar, renda e empregabilidade. A nova educação é também a educação do novo trabalhador em um mundo que o trabalho braçal será velozmente substituído pelo trabalho mental e o ócio criativo. Se não mudarmos logo nossa maneira de educar e produzir, o Brasil estará condenado a uma posição marginal na história futura, mas sem mudar especificamente nossa maneira de educar, o Brasil estará definitivamente incapacitado de desenvolver-se no mundo novo da produção inteligente.
Necessitamos sair do paradigma do homem-máquina, sair do paradigma da massa trabalhadora como um mar de músculos solícitos. Necessitamos compreender o povo como hordas da invenção, massas intelectuais preparadas para uma economia do conhecimento e uma democracia digital. Nos tempos revolucionários do saber, educar é melhor que remediar. Pois não há educação que nos custe caro, nós pagaremos caro é pela ignorância, talvez ao preço de perder nossa nação. Então é preciso gritar para ontem essa máxima — ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL OU MORTE NACIONAL!