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  • Pedro Henrique Máximo Pereira

Caro professor e cara professora, vamos tomar um café? Precisamos conversar!


 

Por Pedro Henrique Máximo

Doutor (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-UnB. Especialista em Educação (AME) pela PUC-RS (2021). Arquiteto e Urbanista (UEG), Artista Visual (UFG) e professor há 12 anos.

 




Este texto não é uma homenagem. Muito menos uma grande salva de palmas. É um minuto de silêncio reflexivo com uma xícara de café nas mãos. Em última instância é uma conversa de professor para professor, de professor para professora.


Dia 15 de outubro não é só uma data comemorativa. Dia 15 de outubro, hoje, no Brasil, é um dia de pausa, reflexão e crítica.


Se olharmos hoje os perfis das lideranças políticas brasileiras nas mídias sociais haverá posts no Instagram, Twitter ou Facebook derramando elogios à figura do professor, à ideia da professora. A grande maioria deles só cumpre protocolo comemorativo cheio de boas intenções. Mas, sabemos, de boas intenções o inferno não só está cheio, como está transbordando.


Essa figura elogiada é abstrata, idealizada e profundamente romantizada. Remonta, em última instância, na mais profunda reminiscência de nossa memória coletiva, ao ideal que temos dos jesuítas se virando nos 30 com varetas nas mãos sobre as areias da praia. Não me reconheço nela.


A mentalidade social brasileira 500 anos depois ainda insiste em repercutir que somos sacerdotes e que nascemos para cumprir uma missão. Por isso deveríamos resistir a tudo. Por esta razão seríamos capazes de suportar tudo. Até sofrer em silêncio em nome desta missão insistentemente relembrada como “difícil”, porém, “bela”. Sério mesmo que, aqui entre nós, de professor para professor, de professor para professora, vocês acreditam nisso?


Talvez no início de nossas carreiras sim. Mas, hoje, depois de tudo que já fizemos, vivemos e vivenciamos com nossos pares, alunos e alunas, duvido muito que esta romantização tenha sobrevivido.


Hoje, em 2021, estes posts destes políticos em tom de nota de rodapé não me afetaram. Não me tocaram. Estou imune a elas. Recebi grande número de agradecimentos e parabenizações por parte de pares, alunos, alunas, ex-alunos e ex-alunas que, por sua vez, me encheram de emoção. Eis aqui a grande diferença! Alunos e alunas não têm em mente professores e professoras como figuras abstratas para serem elogiadas dia 15 de outubro e os outros 364 dias do ano como pedras incômodas no sapato.


O Dia dos Professores se tornou mais um dia do calendário para as grandes figuras se lembrarem da nossa existência. Políticas que penalizam nossos salários foram praticadas em todos os entes da Federação nas últimas décadas, fundamentalmente e principalmente desde 2017. Abarrotaram as salas de aula do Ensino Superior, prejudicando o ensino e comprometendo a aprendizagem. Tiraram o acompanhamento direto de professoras e professores em relação às crianças e adolescentes. Grande parte das escolas sequer tem biblioteca. As condições impostas pelos gestores nos obrigam a nos virar no 30 para garantia do bom (quando possível) ensino-aprendizagem. Assim, nos abrigam, nos discursos dos dias 15 de outubro e na prática a nos comportarmos como os tais missionários.


Somos humilhados diariamente pela visão mercadológica que se implantou sobre o Ensino e nossa profissão. Fomos silenciados e silenciadas. Aqueles e aquelas que ousam descumprir a norma não formalmente institucionalizada sofrem punições severas. Aqueles e aquelas que, com coragem, abrem a boca para reivindicar, sofrem retaliações e cortes.


No entanto, por outro lado, se recusam a reconhecer nosso trabalho como trabalho. Utilizam-se do dia 15 de outubro para, mais uma vez, cobrir nossa classe com o manto sagrado de um destino em tese já escrito.


Mas, antes de tudo, somos trabalhadores e trabalhadoras. Cumprimos nossos ofícios dentro e fora da sala de aula. Aliás, nosso trabalho fora da sala de aula é tão ou mais intenso que dentro dela.


Não só merecemos respeito! O respeito é nosso direito! Não só merecemos salários justos e dignos. Salários justos e dignos são nossos por direito! Não queremos o reconhecimento só nos dias 15 de outubro. Queremos reconhecimento frequente, diário e do ponto de vista material!


Sou um profissional da educação. Trabalho na área da educação como professor e diretamente com ensino e pesquisa. Minha responsabilidade profissional é ensinar e garantir que o ambiente de ensino-aprendizagem se instale dentro da sala de aula e nos ambientes institucionais de Educação. Com o ensino aprendo. Com os alunos aprendo. É um processo de retroalimentação!


A partir daí se instala o universo da Educação, que é também e intensamente compartilhado em todos os setores sociais, não só nas escolas, institutos e instituições de ensino e universidades. Eu, como professor, me recuso a ser o porta-voz por excelência da Educação tendo a consciência que os ambientes das cidades e os convívios familiares, sociais e políticos também são espaços educacionais.


Portanto, senhores e senhoras da política, não coloquem sobre nossos ombros o fracasso revelados pelos indicadores sociais, consequência de suas políticas mal desenhadas e porcamente financiadas. O professor é um dos agentes de um amplo campo que conhecemos por educação, não o único e não é, de longe, o hegemônico. Se fosse, certamente, não estaria o caos que hoje está visível! Nós não somos e não seremos o “bode expiatório” dessa anomia social em construção que tentam nos fazer ser!


Nós, pelo contrário, atuamos como escudos. Invariavelmente, tentamos impedir que as humilhações impostas pelos agentes das institucionais brasileiras aos/às jovens e adolescentes os/as alcancem. Por exemplo, lembro-me bem de, ainda estudante do Ensino Fundamental, meus professores fazerem vaquinha para estocarem na escola absorventes para minhas colegas. Eles já faziam, em 2004 ou 2005, o que o Estado brasileiro se recusou a fazer e vergonhosamente ainda persiste em reproduzir com as ações violentas contra os pobres. Eles o faziam retirando de seus próprios salários.


Por fim, compartilho com professores e professoras, minha solidariedade. Reconheço em vocês o esforço quase sobre-humano da empatia, da partilha e do acolhimento. Lidamos com gente! Portanto, valorizamos pessoas, seres humanos. Certamente continuamos nossa lida não por missão, mas por ciência de que só o conhecimento praticado e vivenciado é capaz de conduzir-nos a uma sociedade mais justa, humana e fraterna.


Um abraço especial em nome do WeColetivo aos professores e professoras que já passaram por aqui ou que integram seus quadros. Doar um tempo escasso a este projeto como vocês fizeram e fazem é sinal de que nosso trabalho não é uma missão, mas uma causa!


Sigamos resistindo ao logo projeto brasileiro de destruição da educação!

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