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  • Bryan da Fonseca Araújo

Conservadores, precisamos conversar

Atualizado: 15 de abr. de 2021

Bryan da Fonseca Araújo

Advogado e Mestrando em Ciência Política (UFPB)



Nos dias de hoje aqui no Brasil, não é difícil constatar que o conservadorismo é frequentemente associado com visões reacionárias sobre os mais diversos temas. Muito disso se dá pela apropriação do termo “conservador” por figuras autoritárias e reacionárias, bem como, de pessoas que sequer sabem o que vem a ser a corrente conservadora e tomam para si tal nomenclatura ao passo que defendem práticas discriminatórias e antidemocráticas.

Justamente por existir esta associação equivocada entre conservadorismo e reacionarismo, que o presente texto se faz necessário.


Antes de mais nada, é imperativo que eu esclareça, a fim de ser absolutamente honesto com vocês, caros leitores e caras leitoras, de que não, não me considero um conservador, e talvez isso dê ainda mais robustez a análise que se segue, pois em momento algum buscarei lançar aos louros a doutrina conservadora, e sim, dar a ela um olhar correto, desfazendo a injustiça que é, ter de ser entendida como reacionária, e talvez sejam os conservadores de fato, a quem mais interesse esta conversa.


Pois bem, comecemos pelo começo.

Ao analisar o pensamento conservador, Karl Mannheim faz inicialmente um estudo sobre o pensamento humano, e como este sofre influências do meio social, e se desenvolve em “estilos”, podendo ser categorizados por padrões e categorias distintas.

Para o autor, todos os estilos de pensamento da primeira metade do século XIX sofreram influência da Revolução Francesa, que serviu como catalizador dos diferentes estilos de pensamento. E é justamente neste cenário pós revolução que surge a divisão do estilo de pensamento político entre liberais e conservadores, vindo o estilo socialista surgir após este período.


A revolução liberal francesa e o resultado advindo dela, criou uma atmosfera de preocupação de que levantes similares pudessem ocorrer nos demais países europeus. O conservadorismo surge justamente como uma resposta ao liberalismo revolucionário e as ideias do iluminismo.


Ainda segundo Mannheim, o movimento contrarrevolucionário surgiu na Inglaterra por meio das ideias do filósofo irlandês Edmund Burke, tido por alguns como o pai do conservadorismo. Contudo, é na Alemanha que o movimento encontra sua base e desenvolvimento, pautado no idealismo romântico alemão.

“Em outras palavras, a Alemanha atingiu na ideologia do conservadorismo o mesmo que fez a França no Iluminismo – ela explorou suas conclusões lógicas até as últimas consequências” - Karl Mannheim.

A corrente conservadora empreende a valorização das tradições de uma determinada sociedade, contudo, não é avessa a mudanças. O respeito aos costumes sociais é de suma importância para os conservadores, Tocqueville já preceituava que “não se pode estabelecer o reinado da liberdade sem o dos costumes”.


A ideologia liberal que muito se utilizava da metafísica e do campo das ideias, sempre fora rechaçada pelos conservadores, que defendiam a busca pelo concreto, sendo esta abstração do “deveria ser” um caminho errado a ser seguido.


Por mais contraditório que possa parecer, liberais e socialistas convergem neste sentido, pois ambos trabalham no campo das ideias, sendo os conservadores os principais críticos dessa visão de Estado. O conservadorismo busca entender o futuro olhando e se apoiando no passado, entendendo que somente poderemos saber onde estamos e para onde vamos, se soubermos de onde viemos. Tanto o pensamento liberal do século XIX quanto o pensamento marxista, defendem uma ruptura dos velhos costumes e do velho sistema, e a partir disso, uma refundação da sociedade sob novos parâmetros.


Para Burke a natureza equivale a história, por isso o bom estadista não é aquele que cria e sim aquele que aperfeiçoa a partir de algo já existente, aqui a conservação é a chave, sendo a experiência pretérita mais valorizada do que a perspectiva que se vislumbra no horizonte.


No Brasil, quando falamos de conservadorismo, muitos se lembram de forma quase automática da União Democrática Nacional (UDN) que foi um partido político fundado na década de 40 e que era conhecido pela sua forte oposição ao governo Vargas. Apesar de defender algumas vertentes liberais, principalmente no espectro econômico, o conservadorismo udenista era notório, tanto no seu apoio a eleição de Jânio Quadros, quanto na sua defesa do golpe militar de 1964.


Após a tomada de poder pelos militares, muitos quadros do partido passaram a compor as fileiras do Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido de sustentação do regime. Desde então, a linha que separava o conservadorismo do autoritarismo ficou um pouco turva, mesmo quando figuras notórias da UDN como o jornalista Carlos Lacerda, foram exiladas após o golpe que elas mesmo apoiaram. Com isso, ficou mais fácil para que políticas reacionárias fossem adotadas de forma aberta, sob o falso manto de um conservadorismo, que busca defender “a família e os costumes”.


Assembleia da extinta UDN.


Contudo, a corrente conservadora é uma corrente em essência reativa, pois manifesta-se contra as mudanças sociais que ocorrem de forma brusca e rápida, defendendo um movimento mais lento e gradual dos sistemas e costumes.


Isto está longe de ser uma visão reacionária de mundo, em que se busca resgatar um passado “glorioso” e forçar a sociedade a fazer um movimento reverso daquele caminhar para frente. Não há como negar que o reacionarismo e autoritarismo se travestiram de conservadorismo ao longo dos anos, quando a verdade é que não poderiam estar mais distantes. Com isso, acaba-se criando uma percepção equivocada de que conservadores e reacionários são a mesma coisa.


Os verdadeiros conservadores, que defendem a obediência das regras do jogo republicano, e a proteção da moldura institucional pré-estabelecida, acabam ficando a margem do debate pois são confundidos com pessoas sem qualquer apreço ao regime democrático.


Por isso cara leitora e caro leitor conservador, cabe primordialmente a vocês o combate a estas figuras autoritárias e reacionárias que empestam a política brasileira nos dias atuais, a fim de demonstrar de uma vez por todas, que tais princípios antidemocráticos e essa busca inútil por um passado que está longe de ser aquele que se idealiza, não lhes representam. Pois são em momentos como este, em que uma defesa enfática as tradições democráticas, se faz necessária.

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