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  • Bryan da Fonseca Araújo

Eleições 2020: A vitória da direita (pero no mucho)

Atualizado: 24 de jul. de 2021

Analisando os balanços das eleições que se findaram, uma conclusão a que se chega, de forma quase unânime entre os analistas, foi a de que a direita, mais especificamente a centro direita, saiu vencedora no pleito deste ano.


Quando olhamos os números, tal conclusão à primeira vista nos parece inegável. Contudo, vencer o pleito de 2020 significa, necessariamente, que a direita saiu mais forte pensando em 2022? Vamos aos dados.


O MDB continua sendo o maior partido do Brasil em número de prefeituras e vereadores, entretanto sofreu uma queda expressiva se compararmos com o resultado das eleições municipais de 2016. Um partido historicamente de centro, que já participou de governos que iam da direita à esquerda e que hoje segue mais inclinado para o lado direito do espectro político, viu uma queda este ano de 251 prefeituras e uma diminuição de 3% no número de vereadores.


O PSDB que já governou o País em duas oportunidades e que protagonizou a disputa nacional com o Partido dos Trabalhadores durante toda a década de 90 até 2014, continua, assim como o seu antigo rival, em curva descendente nos pleitos municipais. Apesar de fazer prevalecer sua hegemonia no Estado de São Paulo, vencendo a disputa na maior capital do Brasil, os tucanos perderam esse ano 265 prefeituras e 18% nas cadeiras legislativas municipais. Esta queda de desempenho recorrente, não só nas municipais como no último pleito nacional onde o candidato tucano mesmo tendo conseguido aglutinar o maior número de partidos ao seu redor, tirou apenas 4,76% dos votos, fez com que grandes nomes do partido como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cogitarem a possibilidade do fim do partido.


(Fonte: Jairo Nicolau, 2020)


Muito se falou do desemprenho do Democratas e do Partido Social Democrático. De fato, os partidos tiveram tanto um crescimento no número de prefeituras, 198 e 117 respectivamente, quanto no número de cadeiras nas câmaras municipais, onde o primeiro cresceu 49% e o segundo 22%.


O DEM, apesar do bom desempenho este ano, vem buscando ainda reconquistar o espaço perdido. Em 2004, quando o partido ainda se chamava PFL, possuía 789 prefeituras sob o seu comando, portanto, as 464 conquistadas este ano estão longe de significar que o partido possui a força política de outrora.


O partido de Gilberto Kassab, por sua vez, criado em 2011, de fato está no ápice dos seus resultados eleitorais, ocupando um espaço deixado tanto por partidos tradicionais de direita quanto de esquerda, se aproveitando de uma ausência de rigidez ideológica que norteie seus quadros, buscando uma política mais próxima do eleitor independente de sua orientação.


O PSL, partido pelo qual o Presidente Jair Bolsonaro se elegeu e que contava com a segunda maior verba eleitoral (atrás apenas do PT), conseguiu eleger 60 prefeitos a mais do que havia feito em 2016 quando ainda era um partido desconhecido pelo eleitor, bem como teve um acréscimo de 37% das suas cadeiras legislativas, mesmo com as crises internas e a desfiliação de Bolsonaro de seus quadros.



(Fonte: Jairo Nicolau, 2020)


Entretanto, quando analisamos o percentual de aproveitamento nas eleições majoritárias dos dois maiores partidos em fundo eleitoral, percebemos que ambos tiveram uma taxa de sucesso pífio, 15% de aproveitamento para os candidatos do Partido dos Trabalhadores e 13% para o PSL.


O Partido Progressista, a legenda com mais figuras imputadas na “lava-Jato”, ficou com a segunda colocação em número de prefeituras, 190 a mais do que em 2016 e vereadores, com um aumento de 34%.


Com estes resultados a grande pergunta que fica para os partidos de direita e centro-direita é: qual o próximo passo?


Como havia dito no texto As eleições de 2020 e os desafios para o campo progressista, a esquerda por mais dividida e atordoada que esteja, saí à frente da centro-direita, pois já sabe quem são os seus prováveis candidatos à Presidência em 2022 e podem começar a trabalhar tais nomes de hoje. Por outro lado, os liberais brasileiros que se afastaram do governo Bolsonaro continuam sem saber como irão para a disputa ou quais os nomes a serem trabalhados.


Figuras como o do ex-Ministro Sergio Moro e do apresentador Luciano Huck já foram sondados e ventilados na mídia para a avaliação prévia da recepção do eleitorado. Contudo, não se sabe ainda qual será o caminho a ser seguido.


Partidos como PP, PSD e MDB historicamente preferem compor com outras legendas a realmente se expor em uma candidatura própria, justificada pela flexibilidade ideológica dessas legendas. Tudo leva a crer que em 2022, na eleição majoritária nacional, todos eles apoiarão o nome de algum outro partido. Devemos, contudo, fazermos uma ressalva para o PP, onde há conversas para o regresso do Presidente da República para os seus quadros. Caso o partido realmente volte a ser a casa de Jair Bolsonaro, já que este não conseguiu as assinaturas necessárias para a criação do seu próprio partido, tende a lançá-lo a reeleição.


O PSDB, que desde 1994 vem lançando candidatura própria, vê seu protagonismo ameaçado pelo DEM, que pela primeira vez pode exigir a “cabeça de chapa”. Todavia, o que falta ao partido de Rodrigo Maia é um nome competitivo para 2022, que diferentemente dos tucanos que têm no Governador de São Paulo João Doria, um nome para a disputa, o Democratas ainda padece da falta desta figura nacional.


Desta forma, nos parece que a direita e a centro-direita brasileira não bolsonarista ainda têm um logo caminho a percorrer até 2022, e faltando apenas metade da jornada, têm que começar a correr contra o tempo se quiser se apresentar de forma competitiva. Ao que tudo indica, muitos nós precisarão ser desatados e muita coisa precisa ser realinhada. A questão que remanesce é: haverá tempo para isso?

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