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  • Bryan da Fonseca Araújo

Existe espaço para uma 3ª via?

Atualizado: 24 de jul. de 2021


 

Por Bryan da Fonseca Araújo

Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Segurança pública.

Mestrando em Ciência Política (UFPB).

 

No dia 31 de março foi emitido um manifesto pela democracia assinado por seis nomes cotados para concorrer à presidência em 2022. São eles o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), o governador de São Paulo João Dória (PSDB), o empresário João Amoêdo (NOVO), o ex-ministro Luis Henrique Mandetta (DEM) e apresentador Luciano Huck (sem partido).


O manifesto em si não carrega muito significando, visto que é apenas mais um em meio a tantos outros que já foram emitidos e assinados por estes nomes, que buscam externar reprovação frente aos rompantes autoritários do Presidente da República. Então, por qual motivo este manifesto em específico gerou tamanha repercussão?


Bem, com exceção de Ciro que votou em Fernando Haddad no 2° turno de 2018 (sim, Ciro estava no Brasil e votou no 2° turno), e Luciano Huck que apesar de expressar possível voto em Bolsonaro em 2018, não participou ativamente da campanha do mesmo, todos os demais são ex aliados do atual Presidente, deixando claro uma perda de capital político pelo chefe do Executivo nacional.


Sendo assim, muitos da grande imprensa começaram a buscar significados ocultos neste manifesto, mas a verdade é que no momento não passa disto: um manifesto. Onde todos concordam em um único ponto: é preciso colocar freios nas ações de Jair Bolsonaro. Fora dessa questão, os candidatos encontram muito pouca convergência, ok, talvez não todos, mas apenas um. Ciro Gomes, em pouco ou nada converge nas visões de país de nomes como Amoêdo e João Dória, tendo sua inclusão no manifesto ocorrido devido a um único motivo: nenhum dos outros signatários possui as intenções de votos do pedetista hoje, e sem o seu eleitorado uma possível aliança destes nomes corre o risco de ficar restrita a um nicho específico do eleitorado, não tendo a força e o alcance necessários para chegar ao 2° turno.


Se tal manifesto tivesse sido assinado por todos estes, exceto o Ciro, talvez não tivesse gerado qualquer repercussão ou espanto, vez que uma aliança dos demais nomes é vista como algo natural e até provável para 2022. A presença do cearense, contudo, levantou as orelhas de muita gente nos bastidores.


Ainda é vista com muita desconfiança a possibilidade de união entre o PDT e estes setores da direita brasileira, o próprio Ciro afirmou em entrevistas que não via o DEM o apoiando em 2022, e a probabilidade maior é que o mercado e o setor financeiro realmente busquem uma alternativa mais palatável ao setor do que um trabalhista.


Contudo, na política brasileira, às vezes, a necessidade faz a hora.


Com a retomada dos seus direitos políticos, o ex-Presidente Lula entra forte na disputa de 2022. É claro, não se sabe ainda se ele será realmente o candidato do PT, mas os institutos de pesquisa se adiantaram em analisar cenários com ele como o candidato, e a diferença de votos entre Lula e Haddad é abismal, deixando o partido sem muitas opções neste sentido.


Com a volta de um player de peso para o jogo, o espaço ficou muito estreito para uma disputa pulverizada como vimos em 2018, onde o então Presidente Michel Temer possuía baixa aprovação popular. E quando há sangue na água, o normal é que os tubarões ataquem.


Com Lula e Bolsonaro dividindo hoje 50% dos votos válidos, resta a dúvida: será que há espaço para uma 3ª via nas eleições de 2022?


Bem, vamos aos números.


O instituto Paraná pesquisas em março deste ano, apontou que 46% dos entrevistados se diziam nem apoiadores de Lula, nem de Bolsonaro, por obvio isso não significa que seja o percentual de reprovação dos candidatos, e sim daqueles que não se veem como partidário de ambos.


A exame/ideia por sua vez, alega que 38% dos brasileiros efetivamente rejeitam tanto um quanto outro.


Quando analisamos os números de 2018 veremos que, mais de 42 milhões de eleitores não optaram nem pelo candidato do PSL nem pelo candidato do PT. Somados os votos brancos, nulos e abstenções, isso equivale a quase os votos obtidos pelo 2° colocado, Fernando Haddad, que obteve mais de 47 milhões de votos no segundo turno. Ou seja, há um eleitorado gigantesco, capaz de levar qualquer nome a vitória em 2022 a ser conquistado, e é aí que reside o desafio do centro.


Tanto Bolsonaro quanto Lula possuem seus eleitorados cativos, a dúvida reside em qual o real tamanho deste eleitorado, e ambos enfrentam uma grande dificuldade de expandi-los. Bolsonaro continua na sua tática sectária e vem perdendo gradativamente setores da sociedade que o apoiaram em 2018. Lula por sua vez tenta acenar de forma clara ao centro e a setores da direita, mas até agora não tem recebido respostas.


Entretanto, o centro se mostra incapaz de alcançar essa massa do eleitorado que hoje não se vê representado nem por um nem pelo outro, contudo, essa incapacidade momentânea não deve ser vista como impossibilidade.


Os números mostram que há sim espaço para uma terceira via fora da disputa bipartida entre Bolsonaro e Lula, resta saber se a necessidade irá se sobrepor as divergências existentes.


Caso aconteça, não seria a primeira vez que algo do tipo se concretiza na nossa política, e curiosamente todos aconteceram em momentos de grave crise política, econômica e institucional.


Até pouco tempo atrás era impensável um cenário de 2° turno sem a presença de Jair Bolsonaro, até devido ao histórico brasileiro de sempre reeleger seus presidentes, contudo, esta possibilidade até então improvável começa a ser cogitada como possível, e como sabemos, o primeiro passo para a concretização de uma ideia é a sua concepção.


Tal visão ganha força a cada nova pesquisa de avalição, onde o governo vê sua reprovação subindo de maneira acelerada, chegando a patamares inéditos para esta gestão.


Sim, ainda há muito para acontecer até as eleições do próximo ano, mas aos poucos a neblina vai se dissipando e o horizonte vai ficando cada vez mais claro.

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