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  • Luis Fernando Andrade Brito

Mercado Financeiro: Uma Tribo Endogâmica

Atualizado: 8 de jan. de 2021

Luis Fernando Andrade Brito

Economia (UFC)


O dólar caiu, bom. Juros subiu, ruim. Governo vai aumentar gastos, ruim. Bolsa subiu, bom. PIB cresceu, bom. Assim o mercado financeiro caminha, como uma cantilena repetitiva e rasa, a vida dos operadores da bolsa segue, análises de profundidade de pires como no ditado popular. Caricatura essa, que se revela mais real a cada ano, os economistas desse mercado perderam a capacidade de pensar a economia, e assim como uma tribo fechada tem sua própria língua e crenças, a repetem e perpetuam a exaustão até que o pensamento e reflexão cessem, não por maldade ou burrice, mas pelo dogmatismo barato e expansão desenfreada de um mercado que deveria ser secundário em relação ao mundo real.


A expansão fiscal, no mercado financeiro é quase um palavrão, uma política monetária mais ativa equivale a um pedido para ser excomungado, o dogmatismo domina o círculo financista. A corrente principal é o pensamento econômico neoclássico, que defende a moeda-mercadoria (neutralidade da moeda), que enxerga os investimentos públicos como competidor ao investimento privado, e o Estado como um problema. Esse pensamento não é totalmente errado e está longe de ser a verdade absoluta, a questão por de trás é que, esses conceitos pouco se aplicam aos dias correntes, sua disseminação é quase uma doutrina. Soma-se a isso, justamente o fato de que os anos em que financeirização no mundo ganhou velocidade, foram na década de 80, período do retorno dos clássicos. Agora com expectativas racionais representada pela escola novo-clássica, e dos movimentos neoliberais ao redor do mundo.


Outro fator, que contribui para o fenômeno descrito acima, é a quantidade de pessoas que nunca estudaram o básico de economia mas que estão especulando nas bolsas. Antes considerado um negócio restrito, de 1980 até hoje, o mercado financeiro se expande com rapidez, permitindo que qualquer um com um smartphone crie uma conta em corretora e inicie atividades. O problema não está necessariamente na facilidade de acesso, todos têm esse direito, mas sim na desinformação generalizada acerca da economia. Por parte de muitos coaches, youtubers e mesmo certos economistas que fazem trabalhos para divulgar e ensinar a como aplicar dinheiro no mercado, é possível observar grande amadorismo econômico, comparando as contas do Estado com as contas de uma família ou de um indivíduo, e espalhando frases prontas como “o governo não pode se endividar”, “o governo não pode imprimir moeda” , “o Banco central deve ser totalmente independente”, que são formas muito primárias de encarar questões muito mais complexas.


O mercado financeiro não é um vilão, nem uma entidade com vontades próprias que pode ser apontada na rua e discriminada “olha o mercado financeiro ali, andando de vermelho”, a expansão do crédito via bancos e bolsas foi de fundamental importância para criar todo o sistema econômico que possuímos, e de grande ajuda para fomentar o futuro. Sem esse mercado de crédito seria impossível assistirmos ao surgimento de tantas riquezas e empreendedorismo. A crítica não é feita ao sistema em si, mas aos indivíduos que formam esse sistema, que assim como uma tribo endogâmica, possuem crenças, dogmas, deuses e mitos, que precisam ser urgentemente desconstruídos. Essa atitude tribal, associada à importância que o mercado financeiro possui, o torna por vezes um entrave ao debate econômico. A pergunta a ser respondida é, até quando durará essa interdição?


 

Os textos da coluna de Opinião não representam a visão e posição do WeColetivo, que se dá somente por seus editoriais. A responsabilidade pelos textos desta coluna é inteira de seus autores.

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