- Welyson Lima
Negociadores alertam que "chantagem" de Bolsonaro com Floresta Amazônica não será aceita.
Cúpula do clima é decisiva para inserir Brasil no mundo. Biden foi alertado por europeus sobre Bolsonaro.

Negociadores e diplomatas internacionais alertam que o Brasil apenas recuperará sua credibilidade internacional e conseguirá ser reconhecido como "parceiro confiável" quando demonstrar com ações concretas que está agindo para combater desmatamento na Amazônia.
No entanto, no Planalto, a estratégia de exigir uma espécie de compensação em troca de promover uma reviravolta na política ambiental é vista nos corredores da diplomacia estrangeira como " chantagem" de Bolsonaro e não será aceita.
A Cúpula do Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, colocou, nesta quinta-feira (22/04), a floresta no centro do debate internacional e para negociadores experientes, este é um "momento decisivo" para política externa nacional.
Há uma semana, Ricardo Salles, ministro do meio ambiente, disse que o Brasil está "disposto a agir". Porém, ele insistiu que apoio internacional até hoje não ocorreu, conforme previsto pelo Acordo de Paris. Salles indicou que, entre 2006 e 2017, o Brasil conseguiu evitar a emissão equivalente a 7,8 bilhões de toneladas de gases. Se fossem remunerados com base no mercado interno europeu, tais volumes representariam um valor de U$$ 290 bilhões. "O Brasil recebeu próximo de U$$ 1 bilhão. Isso mostra que há espaço para o apoio da UE", disse.
A fala de Salles não agradou e nos bastidores e foi qualificada como "chantagem". Um embaixador europeu disse que "a credibilidade do país será ainda mais afetada".
Para autoridades em Bruxelas, o governo Bolsonaro precisa ser consistente e ainda ampliar suas medidas nacionais para fortalecer leis ambientais, regulamentações e monitoramento da situação das florestas. Fontes diplomáticas também revelam como diferentes governos europeus passaram a alertar o governo Biden sobre riscos de se negociar com Bolsonaro e Salles, sem provas concretas e mecanismos de monitoramento do que foi prometido. De acordo com esses negociadores, o Departamento de Estado norte-americano teria entendido o recado dos aliados europeus e recalibrado a pressão sobre Salles.
A diplomacia dos EUA, ampliou seus contatos e foi buscar entendimentos também com o Ministério da Agricultura e com o Ministério da Economia. Da equipe de Paulo Guedes, a meta era de conseguir um compromisso de que haverá mais dinheiro do orçamento para garantir medidas de controle contra o desmatamento. Enquanto com a ministra Teresa Cristina, da Agricultura, uma das opções discutidas seria um compromisso de metas para pecuária, na qual o Brasil se comprometeria a não exportar carnes que possam ameaçar o meio ambiente ou gerar desmatamento.
O ex-ministro do meio ambiente, Rubens Ricupero fez duras críticas à carta de Bolsonaro a Biden. O ex-ministro disse que "óbvio que a carta de Bolsonaro é mentirosa e cínica, mentirosa porque alinha fatos falsos ou meia verdades e cínica porque diz o que os americanos gostariam de ouvir, mas faz o contrário", alertou Ricupero.