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  • Carlos Eugênio dos Santos Lemos

Nise Yamaguchi mente na CPI da Covid-19 segundo levantamento do Estadão

A médica Nise Yamaguchi foi ouvida durante o dia de hoje (01/06/2021) na CPI da Covid-19

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado


A CPI da Covid-19 no Senado Federal ouviu nesta terça-feira (01/06/2021) a médica Nise Yamaguchi, a médica é conhecida por ser defensora da prescrição de cloroquina para o tratamento de pacientes de covid-19.


A oncologista e imunologista citou dados incorretos sobre o índice de mortalidade no Amapá e disse que nunca teve encontros privados com o presidente Jair Bolsonaro — o que não é verdade.


Segue o levantamento feito pelo Portal Estadão:


“Eu já tive covid, e eu não posso me vacinar, porque eu tenho uma doença autoimune […] Como eu expliquei, até para esclarecer aquela questão da vacinação obrigatória e aleatória, existem pessoas que não podem se vacinar, principalmente aquelas que têm vasculites – como é o meu caso, eu tenho uma síndrome de Raynaud –, outras pessoas que têm doenças maiores, hepáticas ou renais que sejam situações graves”


É falso que pessoas que têm vasculites não podem se vacinar contra a covid-19. Pacientes com doenças reumáticas autoimunes foram incluídos no grupo prioritário de vacinação, e esse grupo inclui pacientes portadores de vasculites. Em abril, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) destacou a importância da imunização dessas pessoas.


“No Amapá, temos um dos menores índices do mundo de mortalidade”


É falso. A taxa de mortalidade mostra quantas pessoas de uma determinada população morreram por causa de uma doença. A médica citou o Amapá como exemplo de Estado em que se aplicou o chamado “tratamento precoce”.


Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade do Amapá nesta terça-feira, 1º de junho, era de 200,5 mortes por 100 mil habitantes. Essa taxa é maior que a de 11 Estados no País — Maranhão, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Norte, Piauí, Tocantins, Acre, Paraíba e Minas Gerais —, ainda que esteja abaixo da média do Brasil, de 220,2.


Também é falso que o Amapá tenha uma das menores mortalidades do mundo. Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, apenas 14 países aparecem com mais mortes por 100 mil habitantes do que 200,5. A taxa de mortalidade amapaense por covid-19 é maior do que a de 166 países e territórios da lista — e 132 deles aparecem com menos da metade desse índice.


É possível que Yamaguchi tenha confundido taxa de mortalidade com taxa de letalidade — essa última indica quantas pessoas morrem em relação ao total de contaminados. Nesse caso, o Amapá tem a menor taxa entre os Estados brasileiros (1,51%). Mas é enganoso atribuir esse resultado ao chamado tratamento precoce. A letalidade está relacionada a diversos fatores, como quantidade de testes realizados, idade da população, densidade demográfica etc.


“(Perguntada sobre estudos revisados que confirmem eficácia de cloroquina) temos uma série do Henry Ford Foundation, essa publicação traz com relação aos dados da hidroxicloroquina nessas instituições”.


Conforme o Projeto Comprova já mostrou, a análise publicada pelo Henry Ford Health System é insuficiente para provar eficácia da hidroxicloroquina no combate à covid-19. Isso porque ele é um estudo observacional, diferente do chamado padrão ouro de pesquisas, o ensaio clínico randomizado controlado.


No estudo publicado pelo Henry Ford Health System no International Journal of Infectious Diseases, médicos analisaram 2.541 pacientes hospitalizados entre os dias 10 de março e 2 de maio de 2020 em seis hospitais que fazem parte da rede de saúde da organização, localizados na região metropolitana de Detroit, nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, 13% dos tratados apenas com hidroxicloroquina morreram, enquanto a taxa de mortalidade entre os pacientes não tratados com hidroxicloroquina foi de 26,4%.


Um especialista ouvido pelo Comprova disse que estudos observacionais sozinhos não permitem concluir pela eficácia de um medicamento. “Eles apenas sugerem associações que depois precisam ser validadas em estudos de intervenção”, disse Carlos Orsi, do Instituto Questão de Ciência. A própria conclusão do artigo ressalta que os resultados precisam ser confirmados através de outros testes que permitam avaliar “rigorosamente” a eficácia do tratamento.


O site The Detroit News relatou que Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, chamou o estudo de falho e criticou o fato dele não ser controlado. Fauci é a principal autoridade médica no combate à pandemia nos EUA. Durante comissão do Congresso americano, ele comentou que muitas pessoas que receberam a hidroxicloroquina também receberam corticóides, o que hoje se sabe que tem impacto positivo no tratamento.


“Eu nunca tive encontros privados com o presidente Bolsonaro, mas eu tive um almoço com diversos integrantes e eu conversei sobre a importância desse tratamento precoce inicial”


A agenda do presidente Jair Bolsonaro indica que ele se reuniu de forma privada com Nise Yamaguchi ao menos uma vez, no dia 15 de maio de 2020. Há ao menos outras três reuniões entre o presidente e a médica, com a presença de outras pessoas.


Uma delas, no dia 6 de abril de 2020, ocorreu no horário do almoço, com a presença dos ministros Braga Netto (Casa Civil), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo da Presidência) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). No dia seguinte, a médica voltou a se reunir com o presidente, com Ramos e o deputado federal Victor Hugo (PSL-GO).


Em 8 de abril, Nise esteve com o então assessor-chefe da Presidência, Filipe Martins, e o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. No mês seguinte, no dia 21, Nise foi novamente ao Planalto, quando se encontrou com Bolsonaro, o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco.


“O Exército sempre produziu cloroquina e hidroxicloroquina”


De fato, o Laboratório Químico do Exército já produzia cloroquina para o tratamento de malária e lupus. No entanto, o Exército aumentou a produção para o tratamento da covid-19, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.


Segundo mostrou o Estadão, o Exército produziu 3,2 milhões de doses em 2020. A última produção havia sido em 2017, um total de 256 mil comprimidos. O aumento se deu para uso no tratamento da covid-19.




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