- João Lucas de Castro Oliveira
O cenário macroeconômico brasileiro e mundial após a COVID-19
Os impactos da pandemia da COVID-19 no cenário macroeconômico global afetaram, dentre outros indicadores, o emprego e o produto.
por João Lucas de Castro Oliveira
Graduando em Finanças pela UFC e Diretor Financeiro do CA.
Com o advento da pandemia do COVID-19, o cenário econômico mundial foi afetado diretamente. O vírus da COVID-19 pode ser tratado com a “Lógica do Cisne Negro – O impacto do altamente improvável – do autor Nassim Taleb”. O fenômeno da COVID-19 preenche todos os três requisitos que sustentam essa teoria, dentre eles: ser imprevisível (sabe-se que o Coronavírus foi uma surto epidemiológico inesperado e de alta magnitude), ocasionar resultados impactantes (o Coronavírus trouxe impactos diretos para os âmbitos da educação, economia, segurança e principalmente da saúde, dentre outros) e depois de seu acontecimento, procura-se transformá-lo em um evento um pouco menos imprevisto e mais esclarecido (é o que aconteceu e vem acontecendo, especialistas buscando e encontrando respostas sobre a origem, tratamento, cura e além disso, quais as motivações para que esse fenômeno tenha tido essa grande escala mundial).
A ideia por trás da lógica do cisne negro caracteriza os acontecimentos inesperados (tendo esse nome porque nunca havia sido visto um cisne negro até o século XVII, na Alemanha, ou seja, a ocorrência desse fato foi algo inesperado) com isso, a grande maioria dos países não estavam prontos para lidar com tal situação. Organizações como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) afirmam que a as consequências do fenômeno da COVID-19 superam a Crise Financeira de 2007-2008 e a Grande Depressão de 1929. Além disso, um estudo divulgado pelo ADB (Sigla em inglês para o Banco Asiático de Desenvolvimento) “estima que o custo da pandemia de Coronavírus pode chegar a US$ 8,8 trilhões, dependendo da evolução do surto e do alcance das respostas dos governos. Esse número equivale a quase 10% do PIB global”.
Por isso que as consequências do advento da pandemia causada pelo COVID-19 no cenário econômico mundial foram imediatas, inesperadas e avassaladoras. Os maiores problemas causados pela pandemia, foram problemas estruturais, com empresas quebrando - segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas) só no Brasil, pelo o menos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas em razão dos impactos econômicos causados pelo Coronavírus) -, uma diminuição drástica na demanda - os setores de aviação, turismo, bares, restaurantes, shoppings foram os que mais apresentaram queda na demanda -, a cadeia produtiva diminuindo ou, em alguns casos, se encerrando. Esses fatores afetam diretamente os indicadores macroeconômicos. O gráfico abaixo mostra o aumento do desemprego na China, Austrália, Alemanha, Estados Unidos e Coreia do Sul devido aos impactos da pandemia do COVID-19 na economia:

O aumento do desemprego na China, Austrália, Alemanha, Estados Unidos e Coreia do Sul devido aos impactos da pandemia do COVID-19 na economia.
Observa-se, então, um aumento significativo na taxa de desemprego de grandes países como os Estados Unidos, tido como a maior economia mundial, que teve um aumento de 4,4% no mês de março. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) o número de desempregados no mundo deve alcançar 190,5 milhões neste ano. A organização também elucida que a taxa de desemprego global no ano de 2019 foi de 5,4% e deve permanecer em torno desse valor nos próximos dois anos. Especificamente no Brasil, a já citada OIT, estimou que o país deve encerrar o ano com 12,9 milhões de desempregados, porém, em julho a taxa de desocupação chegou a 13,7%, que corresponde a 12,9 milhões de pessoas. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no mês de agosto. A taxa de desemprego no Brasil sempre foi um indicador relevante e presente nas avaliações de governos passados, e esse fato mostra que o desemprego já era um problema para o país. Durante a pandemia do COVID-19 o problema só foi agravado. Esse indicador macroeconômico tem uma correlação direta com outros indicadores como renda per capita, nível de pobreza, coeficiente de Gini, dentre outros. Além disso, as áreas da saúde, segurança, educação também são afetadas por conta da falta de emprego no país, por isso tal importância de políticas que estimulem a criação de empregos.
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Outro indicador macroeconômico bastante relevante é o produto. No campo econômico, produto significa basicamente a produção total de bens e serviços finais que são produzidos por uma sociedade num determinado período, sendo o PIB (Produto Interno Bruto) o indicador que mede essa taxa em determinado país. Com o advento da pandemia do COVID-19, sabe-se que a produção de bens e serviços diminuiu bastante, tendo em vista que fábricas, lajes corporativas, lojas, dentre outros ambientes de mercados foram obrigados a fecharem as portas, seguindo as normas da OMS (Organização Mundial da Saúde). Logo, com o fechamento desses ambientes em todo o mundo, o PIB mundial e o PIB dos países foram afetados diretamente. A OCDE divulgou um estudo que apresenta uma queda no PIB dos países que compõem o G20 (grupo formado por ministros de finanças e chefes de Bancos Centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia), o gráfico abaixo elucida os dados:

OCDE: Países do G20 tem queda do PIB sem precedentes.
Observa-se que todos os países, menos a China, sofreram uma contração no 2º trimestre de 2020. Os países mais afetados foram a Índia (queda de 25,2%), Reino Unido (queda de 20,4%) e México (queda de 17,1%). O tombo fica ainda mais claro quando se compara a queda do PIB do G-20 no 1º trimestre de 2009 que foi de 1,6% versus a queda do 2º trimestre de 2020 que foi de 6,9%, ou seja, quando comparado à crise financeira de 2008-2009, observa-se que a diminuição no 2º trimestre de 2020 foi quase 5 vezes maior.
Ademais, o Brasil ocupa a 9º posição no ranking, com 9,7% de queda, porém, esse valor não é considerado ruim quando comparado ao resultado de outros países. A OCDE elucida que a crise econômica, no Brasil, em termos de PIB foi bastante parecida com a média do “clube de países ricos” (média de 9,8% - Estados Unidos, Alemanha, Canadá, dentre outros). Outros indicadores que podem mostrar os impactos causados, no Brasil, pelo advento da pandemia do COVID-19. Segundo o IBGE, o índice de pessoas que pediram o seguro-desemprego em abril aumentou em 39% em relação ao número de março, de acordo com o Ministério da Economia. O IBGE também mostra que a produção industrial encolheu 9,1% em março de 2020 (as maiores quedas foram no Ceará -21,8%, Rio Grande do Sul -20,1% e em Santa Catarina -17,9%). Outro dado relevante é o risco-país, que foi de 95 para mais de 400 pontos. Ou seja, na ótica dos investidores internacionais, o Brasil se tornou um país mais arriscado para investir esse ano, uma das medidas que reforçam essa percepção é o CDS (Credit Default Swap), que mede a chance de um país dar um calote na sua dívida externa, só nesse ano o CDS do Brasil cresceu 255%.
Por fim, diante dos dados apresentados é confirmada a hipótese de que a pandemia afetou de forma direta a economia não só do Brasil, mas de diversos países no mundo. Este fato pode ser verificado por meio da análise de alguns indicadores macroeconômicos importantes como o produto e o desemprego.
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