- Iago Esturião Mendes
O chão nosso de cada dia
O que deveria estar sendo debatido por esses partidos são as estratégias de acesso popular, de como fazer pender o movimento do povo para o nosso lado novamente.
Por Iago Esturião Mendes
Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Federal Fluminense e Presidente da Juventude Socialista de Niterói (RJ)
Os resultados das eleições para as mesas diretoras do Congresso Nacional evidenciaram uma deficiência do campo progressista que o próprio campo parece não encontrar soluções. A formação de um bloco legislativo forte, sólido e numericamente capaz de fazer frente aos desmontes do atual e do último governos foge às alternativas apresentadas pelos representantes do campo. Caem, inclusive, num falso dilema do que seria a estratégia acertada para concorrer a estes espaços – uma composição “pura” e cheirosa ou uma frente mais ampla onde se pode abarcar partidos e quadros com confiabilidade questionável.
No fundo, ao entrar nesse debate pouco frutífero, evidenciam de antemão a derrota que sofrerão (nestes casos já sofreram) logo à frente. A busca por alternativas de alianças com partidos de centro-direita e de centro prova que a participação dos partidos de centro-esquerda e de esquerda é numericamente insuficiente para qualquer manutenção do mínimo de dignidade para a população que postulam defender. Por outro lado, a derrota nas eleições garantindo uma espécie de “dignidade” de classe, sem o aperto de mão como fisiologismo político, ou algo desta espécie, constitui ainda assim uma derrota. O dilema, em sua essência, é a forma como optamos por perder, como uma equipe lanterna do campeonato, ao enfrentar o líder invicto, debatendo se prefere jogar com 3 atacantes ou 3 volantes. Concretizaremos a derrota tentando ganhar, ou jogaremos tentando garantir, ao menos, um empate?
A dura verdade reside na factual análise de que a partida deveria ser realizada em outro campo. Aqui, perco a possibilidade de manter as analogias com um jogo de futebol, mas mantenho a argumentação. A disputa real pela direção destes espaços não será realizada no plenário da Câmara, e muito menos no Senado. A penosa batalha a ser enfrentada é a da rua, do chão, do povo. O que deveria estar sendo debatido por esses partidos são as estratégias de acesso popular, de como fazer pender o movimento do povo para o nosso lado novamente. Não há nenhuma possibilidade de fazermos frente a esta estrutura política secular sem uma estratégia que passe pela conquista dos corações e mentes do povo comum. A desacreditada carta na manga que esquecemos possuir situa-se nas chances de estarmos ao lado da população outra vez, construindo um projeto de sociedade que dialogue com ela, entenda seus problemas e permita que a mesma construa este projeto. Jamais iremos conseguir barrar um projeto de privatização, por exemplo, se a própria população estiver a favor, ou, neste caso, estiver elegendo candidatos que votarão a favor. Por mais que julguemos entender e representar as demandas da gente comum, a que não faz política no dia a dia, precisamos levar a partida exatamente para este campo de disputa celular, que é cada cidadão brasileiro.

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-leonel-brizola-criou-campanha-da-legalidade-para-barrar-o-primeiro-golpe-contra-jango.phtml
O golpe mais doído que sofremos neste tempo, mesmo entre tantos que nos atingiram desde 2016, localiza-se na perda da opinião popular. O problema maior não está na cadeira presidencial ser ocupada por um pária, já passamos por isso outras vezes. O problema maior está exatamente no fato de que este mesmo pária conseguiu conquistar, ou ao menos convencer, 57 milhões de brasileiros. Assim como a ferida mais sangrenta hoje não é a derrota do campo progressista (ou democrático, como preferirem) no comando da Câmara, mas sim saber que há grande chance de vermos, em 2022, o filme de 2018 se repetindo e o campo progressista, popular, continuar totalmente atônito à todas as mudanças ocorridas no seio de nossa gente. O nosso projeto, apesar de todas as nossas divergências, precisa ser construído na rua, com o povo, no chão nosso de cada dia.