- Felipe Rabelo Soares
O Covidário Brasileiro
Por Felipe Rabelo Soares,
Graduado em História.
Talvez você ainda não percebeu, mas certamente a pessoa que está ao seu lado nesse momento está com covid-19. Quem sabe sua tia, seus tios. Ou talvez seu filho. Se não e eles, o seu vizinho deve estar com covid-19. Você está indo em direção ao ponto de ônibus para ir ao trabalho, e encontra algumas pessoas que certamente estarão com covid-19. Você pega o coletivo, e talvez o motorista e o trocador estejam com a covid-19. Na tenha dúvidas que você irá encontrar com algum passageiro que com certeza está com covid-19, pois dias atrás ele participou de um encontro familiar e teve contato com algum parente infectado.
Durante esse percurso para o trabalho, você terá encontros com todo tipo de gente, é inevitável. E muitas delas está infectada pela covid-19 e outras por sorte não. Finalmente você chega ao trabalho, e logo de cara na portaria você encontra com o porteiro que talvez esteja com covid-19, a final de contas, todos que entra na empresa, tem que passar por ele, como o caminhoneiro trazendo a mercadoria de outra região, que certamente está infectado pela covid-19. O seu chefe deve estar com a covid-19, pois sua secretária postou nas redes sócias recentemente uma foto em uma festa clandestina e depois de um tempo começou a sentir os sintomas da covid-19 e mesmo assim continua trabalhando. Quem sabe o seu chefe pegou da amante dele ou na resenha com os amigos depois da peladinha (Futebol) escondido.
Desta forma, talvez o seu cabeleireiro preferido esteja com a covid-19, onde ele não respeita as normas sanitárias de restrição no seu estabelecimento. Talvez o frentista esteja com covid-19, devido a excesso de contato com dinheiro e cartões dos clientes, que certamente estão infectados. Quem garante que os policiais que faz a patrulha no seu bairro não estejam infectados, senão eles, talvez o pedreiro que está fazendo uma reforma qualquer na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da comunidade. Ou talvez o motoboy esteja infectado pela covid-19, mas obrigado a trabalhar, pois, seu salário é de acordo com a quantidade de entregas que ele faz diariamente. Dentro desta perspectiva, talvez o motorista de aplicativo que você pegou recentemente tem grandes chance de estar infectado pela covid-19. A repositora do supermercado talvez esteja com a covid-19 e os outros funcionários também, inclusive o proprietário. O pintor do muro da sua casa talvez esteja com a covid-19 também, e consequentemente o seu ajudante. O mecânico da oficina próximo a sua casa talvez esteja com covid-19, a manicure e pedicure talvez estejam com covid-19 também. Assim, o engenheiro da sua empresa talvez esteja com a covid-19, com toda sua equipe, ou advogado da empresa. Talvez o técnico de segurança do trabalho e os almoxarifes esteja com covid-19. O síndico do seu condomínio talvez esteja com covid-19, pois, ele até tentou impor restrições, mas os condôminos não respeitaram, assim talvez todos estejam com covid-19. O vereador do bairro e os seus assessores estão com covid-19. O prefeito está com covid-19, o ferramenteiro talvez esteja com a covid-19, o caldeireiro também. O fresador talvez esteja com a covid-19, o mestre de cerimónias também. Talvez o analista de contabilidade esteja com covid-19, talvez os jogadores do time que você torce estejam com covid-19. Talvez os artistas que você tanto gosta estejam com covid-19. Talvez o Brasil hoje seja um grande covidário.
Entretanto, talvez seja esse escriba o grande vetor de transmissão da covid-19 em torno das pessoas a minha volta. Talvez você que continua lendo esse texto, seja o responsável direto desse descontrole pandêmico. Não tenho dúvidas que você conhece alguém que compartilha informações falsas sobre a covid-19 nas redes sociais de maneira inescrupulosa, cometendo aí um crime contra a saúde pública e a reprodução brasileira da covid-19 não para.
Por consequência, essa contaminação descontrolada infelizmente nos trouxe o caos sanitário. Quando o rei Eduardo III, da Inglaterra, se depara com a peste bubônica, é plausível compreender que a solução encontrada naquele momento seria o apelo único e exclusivo ao divino na espera do milagre, nada mais, ficando o rei Eduardo III isento de responsabilidade pela proliferação da doença. Atualmente, com o avanço da ciência, é inadmissível esses comportamentos negacionistas, pois, é possível termos um plano de vacinação eficaz para a população brasileira, haja visto que o Brasil é referência global em vacinação em massa. Temos capacidade para imunizar quase 2 milhões pessoas por dia.
Contudo, não tenho dúvidas que se o poder executivo brasileiro tivesse o mesmo esforço para combater a pandemia, como usou para deslegitimar a ciência e os especialistas, certeza que não estaríamos aqui chorando os mais de 330 MIL MORTOS pela covid-19. Se a santa ignorância estava no cardápio da idade média, na Era dos algoritmos temos as notícias falsas, aliás, e compartilhada muito mais rápido do que a verdade, e temos os remédios sem eficácia comprovada pela ciência, como Azitromicina, Hidroxicloroquina e outros, e isso não podemos aceitar. Dessa maneira é importante deixar um aviso: um dia tudo isso vai passar e os responsáveis terão que prestar contas ao povo, portanto, espero que dessa vez não tenha Lei da anistia. Para um bom entendedor, meia palavra basta.